14 de novembro de 2006

Sobre nós, os portugueses

"Mas a consequência maior da incapacidade de falar com o outro, e de o ouvir, é a impossibilidade de encontrar o "tom" que construirá o plano de inscrição das expressões verbais. O tom dá a intensidade adequada a partir da qual todo o tipo de fala (intensiva) é possível sem quebrar a conversa. Em Portugal ninguém proura o tom.
Por isso, o que se diz não se inscreve, não constitui acontecimento. Qualquer promessa é vã. Não há superfície de inscrição possível para as palavras que deveriam construir o acontecimento. O saltitar contínuo, a interrupção necessária, a dispersão, a impunidade da fala autista impedem que o desejo (a fala) se inscreva produzindo efeitos no real."
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in GIL, José - Portugal, hoje: O medo de existir, 7ª edição, Lisboa, Relógio d'Água, 2005, pp. 57.

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